Neste texto procuramos travar um diálogo com as leituras sugeridas a partir do referencial de Bueno (2001) e Damázio (2005) bem como, nossas impressões acerca da educação da pessoa com surdez.
Um primeiro aspecto que merece destaque e é apontado por Damázio (2005) diz respeito à identidade da pessoa com surdez. No texto a autora traz algumas denominações que são geralmente dirigidas às pessoas com surdez. Quando pensamos no que muitos chamam de cultura surda, comunidade surda, política surda, entre outras denominações trazidas pela autora, estamos, na verdade, tratando de uma exclusão dentro da inclusão, dentro do que se propõe a ser uma sociedade/escola inclusiva.
Nesse sentido, acreditamos que a bandeira de luta é muito maior e não diz respeito a um grupo em detrimento de outro, pois estaríamos criando grupos que tomam a inclusão como dada a partir de uma parcela da sociedade.
Em pesquisa citada por Damázio (2005) acerca das dificuldades para o trabalho com o aluno com surdez, o grupo de gestores educacionais entrevistado apontou para algumas questões como: o ensino e a aprendizagem da Língua Portuguesa, a comunicação entre surdos e ouvintes, entre outros. Destacamos nesse contexto a relação entre quantidade X qualidade, pois muitas vezes o problema extrapola os muros da escola. Afinal, que inclusão se faz com algumas determinações que estabelecem que uma sala com menos de 25 alunos é para ser desativada?
Os problemas para a inclusão/educação da pessoa com surdez tem sua especificidade, mas também perpassa por questões estruturais que são partilhadas por outros segmentos de pessoas com necessidades educacionais especiais.
A inclusão escolar implica mudança paradigmática, ou seja, uma nova concepção de homem, de mundo, de conhecimento, de sociedade, de educação e de escola, pautada na heterogeneidade, na não dualidade, na não fragmentação, nas diferenças multiculturais e no que existe de original e singular nos seres humanos. (DAMÁZIO, 2005, p. 3).
A defesa que fazemos é que de nada vai adiantar mudanças sucessivas nas terminologias, se estas não forem acompanhadas por mudanças nas práticas cotidianas, na forma como percebemos a particularidade do humano, suas potencialidades e fragilidades, e em como trazemos isso para a sala de aula, para a escola, para os diversos espaços sociais.
Que a esperança com a qual tanto nos apegamos nos momentos dilemáticos, não seja a esperança do verbo esperar, como nos diz o mestre Paulo Freire, mas seja a esperança do verbo esperançar, para que nos joguemos resolutamente adiante, pois “esperançar é não desistir”.
BUENO, José Geraldo Silveira. Educação inclusiva e escolarização dos surdos. Revista Integração. Brasília: MEC. nº 23, p. 37-42, Ano 13, 2001.
DAMÁZIO, Mirlene Ferreira Macedo. Educação Escolar da Pessoa com Surdez: uma rápida contextualização histórica. 2005. mimeo.
DAMÁZIO, Mirlene Ferreira Macedo. Educação Escolar Inclusiva das Pessoas com Surdez na Escola Comum: Questões Polêmicas e Avanços Contemporâneos. In: II Seminário Educação Inclusiva: Direito à Diversidade, 2005, Brasília. Anais... Brasília: MEC, SEESP, 2005. p.108 – 121.
|